domingo, 14 de julho de 2019

A Natureza da Psique



POR QUE EU NÃO ME CURO Dr. JUNG?

" Como médico não sou,naturalmente,atingido diretamente por estas questões universais;é de doentes que devo me ocupar. Até o presente a Medicina tem alimentado o preconceito de que se pode e se deve tratar e curar a doença;mas em tempos mais recentes ergueram-se vozes autorizadas,considerando essa opinião errada e preconizando o tratamento não da doença,mas do doente. Esta exigência também se impõe no tratamento dos males psíquicos. Volvemos cada vez mais nossa atenção da doença visível para o indivíduo como um todo,pois chegamos à conclusão de que precisamente o mal psíquico não consiste em fenômenos localizados e estreitamente circunscritos,mas,pelo contrário,estes fenômenos em si apresentam sintomas de uma atitude errônea da personalidade global. Por isto não podemos jamais esperar uma cura completa de um tratamento limitado à doença em si mesma,mas tão somente de um tratamento da personalidade como um todo.
Lembro-me a este propósito,de um caso muito instrutivo;tratava-se de um jovem extremamente inteligente que,depois de estudar acuradamente a literatura médica especializada,tinha elaborado uma análise circunstanciada de sua neurose. Trouxe-me ele o resultado de suas reflexões sob a forma de monografia clara e precisa,notavelmente bem escrita e,por assim dizer,pronta para ser impressa. Pediu-me que lesse o manuscrito e lhe dissesse o motivo pelo qual ele ainda não havia se curado,quando,segundo seus julgamentos científicos ,já deveria realmente estar. Tive lhe dizer,depois da leitura,que se fosse apenas o caso de compreender a estrutura causal da sua neurose,ele deveria incontestavelmente estar curado,de seus males. Desde, porém,que ele não estava,achava eu que isto se devia a algum erro fundamental de sua atitude para com a vida,erro que fugia à sintomatologia de sua neurose. Durante a anamnese,tive a atenção despertada pelo fato de que ele passava muitas vezes o inverno em Saint-Moritz,ou em Nice. Perguntei-lhe quem pagava as despesas dessas estadias e acabei sabendo que era uma pobre professora que o amava e tirava de sua boca o sustento diário para garantir essas vilegiaturas de nosso jovem. Era nessa falta de consciência que estava a causa da neurose e da enfermidade e,por isto mesmo,a ineficácia de sua compreensão científica. Seu erro fundamental residia,aqui, numa atitude moral. O paciente achou que minha opinião nada apresentava de científica porque a moral nada teria a ver com a ciência. Acreditava ele que podia,em nome do pensamento científico,eliminar uma imoralidade que,no fundo,ele próprio não suportava e não admitia também que se tratasse de um conflito,pois aquela que o amava lhe dava esse dinheiro por livre e espontânea vontade.
Podemos fazer as considerações científicas que quisermos a este respeito,mas o fato é que a imensa maioria dos seres civilizados simplesmente não tolera semelhante comportamento. A atitude moral é um fator real com o qual o psicólogo deve contar se não quer incorrer nos mais tremendos erros."

A natureza da psique >>>>>>>>>>>>>> Carl Jung.

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