sexta-feira, 5 de julho de 2019

O ESPÍRITO MERCURIUS



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"Hermes, senhor do mundo, que mora no coração, círculo da lua, redondo e quadrado, inventor das palavras da língua, obediente à justiça, que veste a clâmide e calça sandálias aladas, guardião da língua altissonante, profeta para os mortais..." (Papyri Graecae Magicae II, p. 139).




O CONTO DO ESPÍRITO NA GARRAFA 


A minha contribuição ao simpósio sobre Hermes consiste numa tentativa de provar que o deus mutável e dado a intrigas não morreu de modo algum com o declínio da Antiguidade; continuou vivo com disfarces estranhos através dos séculos, até tempos recentes, mantendo o homem perplexo diante de suas artes enganadoras e de seus dons curativos. Sim, ainda é narrado às crianças aquele conto de Grimm, "O Espírito na Garrafa", eternamente vivo como todos os contos de fada, e que contém a quintessência e o sentido mais profundo do mistério hermético, tal como chegou a nossos dias.

ERA UMA VEZ um podre camponês. Tinha um filho único e desejava que ele fizesse estudos superiores. Como só pudesse enviá-lo à universidade com uma quantia diminuta, o dinheiro foi consumido muito tempo antes da época dos exames. Então o rapaz voltou para casa e começou a ajudar o pai a trabalhar na floresta. Certo dia, na hora de repouso após o almoço, pôs-se a perambular pela floresta até chegar a um antiquíssimo carvalho de grande porte. Ouviu então uma voz que saía do chão, chamando: "Me solta, me solta!" O menino cavou entre as raízes da árvore e encontrou uma garrafa bem fechada; sem dúvida era dela que saíra a voz. Ele tirou a rolha e um espírito saiu da garrafa, logo atingindo a metade da altura do carvalho. O espírito dirigiu-se ao menino e disse: "Eu fui trancado por castigo. Sou o poderosíssimo Mercurius; e agora devo quebrar o pescoço de quem me soltou". O rapaz ficou apavorado e num instante urdiu um estratagema. "Qualquer pessoa - disse ele a Mercurius - poderia afirmar que estivera preso na garrafa. Mas teria que provar isso". O espírito então entrou de novo na garrafa. O rapaz mais que de pressa fechou-a, e o espírito ficou de novo aprisionado. Prometeu então ao rapaz uma recompensa se este o soltasse de novo. O rapaz concordou e soltou-o, ganhando um pedaço de pano. Passou em seu machado trincado, e este transformou-se em pura prata. Pôde assim ser vendido por quatrocentos taler (moedas). Desse modo, pai e filho ficaram livres de todas as preocupações. O rapaz continuou seus estudos e graças ao pano acabou por tornar-se um médico famoso.

C. G. JUNG - ESTUDOS ALQUÍMICOS

MERCURIUS NA CÚPULA DO CAPITÓLIO DO ESTADOS UNIDOS

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